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Este artigo estava escrito há duas semanas, planejado para ser publicado na coluna do jornal Hoje em Dia do último domingo, 8 de julho. Mas a partir do registro da candidatura, em respeito à legislação eleitoral, deixamos de publicar na coluna e vamos publicar exclusivamente no blog, que continua como um espaço de reflexão. Aqui, continuaremos a publicar artigos, reflexões, indicações de leitura. Estaremos em sintonia com a campanha, mas não será somente campanha.

Patrus Ananias

Há justos 50 anos, Tancredo de Almeida Neves encerrava mais uma importante missão na sua fecunda trajetória política. Lucília de Almeida Neves Delgado, a notável historiadora, e maior estudiosa da vida do pensamento e da obra de Tancredo, afirma que o principal desafio enfrentado por ele “na sua incessante busca de conciliação e determinada atuação como negociador, ocorreu em 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros e da instalação do parlamentarismo no Brasil”. Tancredo Neves exerceu o cargo de primeiro ministro até junho de 1962.

Ele dizia com orgulho que começou sua carreira política atuando como advogado dos ferroviários de São João Del Rey, que o ajudariam a eleger-se vereador em sua histórica cidade natal. Deputado estadual constituinte, foi o relator da Constituição Mineira de 1947 e no início dos anos 50 assumiu o Ministério da Justiça no governo de Getúlio Vargas. Esteve ao lado do então presidente nos dias difíceis que antecederam o desfecho trágico de 24 de agosto de 1954. Defendeu com determinação a resistência às tentativas golpistas. Depois, acompanhou o corpo de Getúlio na trajetória final para São Borja.

Em 1960, disputou o governo de Minas e perdeu. Poucos meses depois, reapareceu no cenário nacional quando eclodiu a crise mencionada: a renúncia de Jânio e o veto dos três ministros militares à posse do vice-presidente, João Goulart. Líder do governo Goulart na Câmara dos Deputados em 1964, colocou-se vigorosamente contra o golpe e acompanhou o presidente ao aeroporto quando ele partiu para o exílio. Absteve-se de votar no Marechal Castelo Branco, no processo eleitoral indireto imposto pelo autoritarismo.

Demonstrou nos primeiros anos de arbítrio uma histórica paciência. Sobreviveu às diferentes ondas de cassação de mandatos e suspensão de direitos políticos que através dos atos institucionais interromperam tantas e dignas vocações para o serviço público.

Foi a são Borja sepultar e prestar as devidas homenagens ao presidente Goulart e quando da morte de Juscelino Kubitscheck, fez um antológico discurso no Congresso Nacional. A sua notável intuição política fê-lo pressentir os ares que anunciavam, nas palavras do general Ernesto Geisel, a distensão lenta, gradual e segura. Tornou-se líder da bancada do MDB na Câmara em 1975. E em 1978 elegeu-se senador. Participou da memorável campanha das Diretas-já.

Sempre agindo dentro das condições objetivas da realidade, negociou em várias frentes a superação do regime ditatorial pela via da eleição indireta no Congresso Nacional. Fez acordos, transigiu, mas manteve o rumo dos compromissos democráticos e sociais. Colheu-o a morte quando se preparava para assumir a presidência da república. O povo brasileiro o acompanhou com carinho nos dias da enfermidade e do definitivo caminho de volta para São João Del Rey. Defensor da conciliação, ele a queria cada vez mais alargada e popular. Gostava e confiava no povo brasileiro.