Nesta quarta (15.12) na Câmara dos Deputados prestei
homenagem à companheira Sandra Starling.
Conheci Sandra Starling em meados dos anos 1970 quando eu era estudante na
Faculdade de Direito da UFMG. Advogada ela havia deixado os sinais de sua
brilhante passagem pela velha e sempre renovada Casa de Afonso Pena.
Vivíamos os tempos pesados da ditadura. Buscávamos, nas sombras, a construção
dos caminhos da liberdade e da justiça. Sandra com sua inteligência, sua
cultura já então admirável, seu amor à boas leituras nos mais variados tempos
do conhecimento e do saber, muito nos ajudava a compreender os desafios do
momento histórico e a construirmos os caminhos do Direito e da Democracia.
Estivemos juntos na construção do Partido dos Trabalhadores, precedido pela
retomada dos movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores, das comunidades
eclesiais de base, movimentos da juventude.
Sandra foi a nossa primeira candidata ao governo de Minas Gerais em 1982.
Brilhou na Assembleia Legislativa, como deputada estadual constituinte. Muito
bem representou Minas e o PT na Câmara dos Deputados, por dois mandatos. Exerceu
a liderança da bancada petista.
Tivemos as nossas diferenças. Vivemos os conflitos inerentes à militância
política. Prevaleceu a nossa amizade que se estendeu ao seu companheiro Thales
e à minha companheira Vera, quando moramos no mesmo hotel em Brasília. Ótimas,
inesquecíveis conversas que variavam das questões familiares à literatura, da
psicologia ao direito, da política às indagações que se abrem para o campo da
história, da filosofia.
Sandra, para a nossa tristeza e perda partidária, desligou-se do PT. Não abriu
mão dos compromissos éticos e democrático e sua especial atenção à causa dos
que lutam pela sua dignidade, “aos que têm fome de sede de justiça”.
Nas questões fundamentais sempre continuamos do mesmo lado. Sempre próximos os
nossos corações. Amizade que o tempo, a distância e os conflitos não
comprometeram. Tínhamos para embasa-la um profundo respeito mútuo. Tínhamos a
certeza que nos nossos acertos e eventuais equívocos nos caminhos de vida e da
militância política estávamos imunes às tentações do dinheiro e do ódio.
A notícia da morte de Sandra Starling tocou fundo meu coração. Mais uma
presença a ser guardada com muito carinho. Continuaremos conversando.