Deputado Patrus Ananias solicita ao TCU urgência na análise de medida cautelar, que aponta perseguições e irregularidades no processo de liquidação da empresa
O porta-voz da Associação dos Colaboradores do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) na campanha contra a liquidação da empresa estatal, o engenheiro de inovação, Júlio Leão, passou a ser alvo do governo, e foi exonerado na última segunda-feira (19.04).
No ano passado, o governo Bolsonaro anunciou a liquidação da Ceitec, uma das sete empresas do mundo no setor de semicondutores, quando o mercado mundial sinalizava a crise pela escassez de microchips.
Desde então, a Associação dos Colaboradores da Ceitec (Acceitec) se empenha em esclarecer à sociedade sobre a gravidade do fechamento da empresa estatal, envolvendo o desenvolvimento tecnológico e a inovação no setor de microeletrônica. A Ceitec fabrica semicondutores e microchips, produtos de alta tecnologia para as áreas de logística, saúde, agronegócio e segurança.
Após a publicação da exoneração, o subprocurador-Geral do Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Rocha Furtado, encaminhou representação de desestatização da empresa Ceitec e publicização de suas atividades, com pedido de medida cautelar a Presidente do TCU, ministra Ana Arraes.
No documento o subprocurador solicita que o Tribunal apure notícia de graves irregularidades que estariam ocorrendo no processo de desestatização da empresa Ceitec “por atender a interesses alheios aos interesses públicos e nacionais” e “por estar sendo conduzido com arbitrariedades e perseguições que acarretarão injustificada e antieconômica perda de recursos humanos e de conhecimentos tecnológicos formados desde o início das atividades daquela empresa pública”.
O deputado Patrus Ananias, secretário-geral da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional, encaminhou ofício à Presidente do TCU, ministra Ana Arraes, na terça-feira (20.04), solicitando ao Tribunal a análise, com urgência, da representação encaminhada pelo subprocurador-geral Lucas Furtado, com pedido de medida cautelar.
O engenheiro de inovação, Júlio Leão, se manifestou sobre a demissão: “Como sou servidor concursado e não existe um processo administrativo para minha exoneração, assim como sequer o plano de liquidação foi aprovado, parece retaliação”. A formação profissional de Júlio Leão compreende em pós-doutorado na U.C. Berkeley (EUA), PhD no IMEC (Bélgica), mestrado em Computação e Engenheiro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com 2,5 mil citações e sete patentes.
Reação de pesquisadores
Pesquisadores brasileiros reagiram à liquidação da empresa Ceitec e à exoneração do engenheiro de inovação, Júlio Leão, durante debate sobre desenvolvimento nacional e asiático, no canal Conexão Xangai, no Youtube.
Apontaram que o Brasil está na contramão da tendência dos países, que é de organizar políticas industriais de inovação, com empresas estatais e privadas, destacando a China, Coreia e Alemanha. “Temos um governo que persegue pesquisadores, técnicos, pessoas que defendem os interesses nacionais, que defendem o país. O que está acontecendo com Júlio pode acontecer com outros pesquisadores. O que vai acontecer é que esses profissionais de altíssima qualificação irão para outros países, para a China e Alemanha”. afirmou o pesquisador Uallace Moreira, Doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Eunicamp).