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Motivado por compreender melhor o processo que se instalou em Brumadinho, que começou bem antes do rompimento da Barragem da Mina do Feijão, em 25 de janeiro, e que se estende para um cenário de muitas lutas para assegurar os direitos básicos da população atingida, estive na cidade, onde tive a oportunidade de escutar moradores e lideranças.

Do bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e referencial para o Vale do Paraopeba, Dom Vicente Ferreira, tomo emprestado a classificação de Brumadinho como uma metáfora da atual conjuntura, de local a global. Acrescento que o crime cometido pela Vale e o modelo implantado é a expansão de negócios sem limites. Não tenho dúvidas de que a questão política está subordinada à questão econômica.

O relato do Padre René Lopes, pároco da Igreja de São Judas Tadeu, destacou o esforço de integrantes da igreja e voluntários, religiosos e não religiosos, de diversas partes do país em dar conforto, apoio, alimentação e, em parceria com a PUC-MG, assistência jurídica às centenas de famílias atingidas. Este esforço já contabilizou 700 famílias atendidas espiritual e socialmente.

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Famílias como as da comunidade do Parque da Cachoeira, com metade das propriedades e muitas vidas arrastadas pela lama, que hoje têm na Igreja de São Judas Tadeu o referencial para seguir em frente. Neste local, a Arquidiocese de BH montou a central de distribuição de doações e alimentação.

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Encontrei velhos conhecidos, como o Seu Romeu, taxista em Belo Horizonte por décadas, e que escolheu viver ali, após se aposentar. O local que antes ficava sua casa, fruto do trabalho como motorista, abaixo de metros de lama, está marcado por um tronco retorcido.

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Solidarizei-me com o pai, Carlos Antônio, funcionário da Vale, que conseguiu se salvar, fugindo em disparada na camionete que dirigia, mas não pode levar consigo o filho, também funcionário da empresa.

A preocupação com o futuro econômico do município foi externada pelo secretário de obras, Alcimar Barcelos e como fiz nos momentos anteriores, momentos de escuta, afirmei o compromisso do mandato em somar esforços.

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Encerrei a visita no Acampamento Pátria Livre, do outro lado do Paraopeba e já em São Joaquim de Bicas. Cerca de 400 famílias, já foram mil, foram impactadas, já que a água do rio servia para irrigar a horta e para os animais.

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Com o rio morto a única opção foi buscar água em uma nascente que corta o terreno. E lá a questão é mais complexa pois uma exigência da empresa para prestar atendimento aos atingidos é mediante a apresentação de um comprovante de endereço. “Queremos ser reconhecidos como atingidos”, disse Cristiano, um dos dirigentes do movimento.

Percorri o acampamento, recentemente beneficiado pelo Programa de Segurança Alimentar (PSA), um plano emergencial resultado do diálogo entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Cáritas Brasileira Regional MG e a extinta Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese), com a entrega de kits horta, apicultura e pintainhas.

Com menos dois anos de implantação, o acampamento possui uma escola, que já contou com 300 alunos em 2018, oferece educação infantil completa, alfabetização para adultos, possui biblioteca, refeitório e um projeto de horta, hoje com futuro incerto. Inaugurada em maio do ano passado a escola conta com a parceria da Fundação Helena Antipoff para oferecer uma educação de qualidade.

Minha presença efetiva em Brumadinho se torna um compromisso, o Vale do Paraopeba se torna uma prioridade do mandato, pois o discurso que se anuncia, que assistimos se constituir, é o de preservação da empresa, o que é assustador, perante a tragédia humana e ambiental.

Não se sabe realmente quantas pessoas foram mortas. Encerro minha visita de compromisso em Brumadinho com a certeza de que nossa luta é pelos mais pobres, por aqueles que estão sendo expropriados de seu direito mais básico, o direito à vida.