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 O retrato de um ano trágico para os povos originários foi revelado
pelo Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil 2020,
divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que comprova
a desenfreada violência contra os povos indígenas durante o
desgoverno Bolsonaro, a começar pelo estímulo às invasões dos
territórios por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros e grileiros,
caçadores e pescadores ilegais, além do descaso com a saúde dos
povos originários durante a pandemia da Covid-19.

Em
2020, 182 indígenas foram assassinados em todo país. No ano
anterior, primeiro do desgoverno Bolsonaro, foram 113. Os
assassinatos de indígenas aumentaram 61%, em 2020, e as invasões
possessórias 141%.

O
relatório destaca que esses dados mostram o aprofundamento de um
cenário extremamente preocupante em relação aos direitos dos povos
indígenas, territórios e vidas, particularmente afetadas pela
pandemia da Covid-19 – e pela omissão do governo federal em
estabelecer um plano coordenado de proteção às comunidades
indígenas.

Em
2020, ocorreram 263 casos de invasões possessórias, exploração
ilegal de recursos e danos ao patrimônio. Esses casos aumentaram em
relação ao já alarmante número registrado no primeiro ano de
desgoverno, quando foram contabilizados 256 casos, e um acréscimo de
137% em relação a 2018.

Segundo o relatório, esses
grupos atuam com a certeza da conivência – muitas vezes explícita
– do governo, cuja atuação na área ambiental foi sintetizada
pela frase do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que
era preciso aproveitar a pandemia para “passar a boiada” da
desregulamentação”.

Suicídio e mortalidade
infantil

Com
base na Lei de Acesso à Informação (LAI), o Cimi obteve da
Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) dados parciais de
suicídio e mortalidade na infância indígena. Em 2020, foram
registrados 110 suicídios de indígenas em todo o país. Não houve
aumento dos casos em relação a 2019, quando os dados da Sesai
indicaram a ocorrência de 133 suicídios.
A desassistência à
saúde das gestantes e crianças provocou a morte de 776 de crianças
de 0 a 5 anos, em 2020.

Durante o lançamento do Relatório, Dom Walmor Oliveira de
Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), afirmou ser “uma vergonha” os números apresentados e
destacou a importância de denunciar esses crimes. “Lamentamos
muito que o governo federal, governos estaduais e outras instâncias
da sociedade não cumpram o seu papel. E isso tudo acontece porque
lamentavelmente o Brasil ainda é uma sociedade da impunidade.
Esperamos que isso mude. Vamos continuar nessa luta, nesse empenho e
nesse trabalho”. “Temos um longo caminho a percorrer na criação
de uma sensibilidade humana, social, cultural e ambiental, para que
não se perpetre tantos crimes contra os povos indígenas, seus
direitos sejam respeitados e, de fato, eles possam ser o que são
nessa terra de Santa Cruz”, acrescentou Dom Walmor.

O
secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella afirmou que a CNBB
permanece ao lado dos indígenas como parte do compromisso pela vida.
“A verdade deve ser sempre conhecida e divulgada. São dados
tristes e vexatórios. O desejo é que o relatório inspire mais
práticas de proteção aos povos originários, como parte de um país
que efetivamente valoriza a vida”.

O coordenador do Cimi Sul, Roberto Antonio Liebgott, afirmou
que a situação caracteriza um processo de genocídio que se pratica
contra os povos indígenas do Brasil.

“A
gente analisa que o Estado, através da sua governança, promoveu no
ano de 2020 uma antipolítica indigenista, amparada numa perspectiva
da desterritorialização dos povos, na perspectiva da
desconstitucionalização de direitos no incentivo de uma integração
forçada dos povos na comunhão nacional”, disse.

Ainda participaram do lançamento do relatório Dom Roque
Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho; Antônio
Eduardo Cerqueira, secretário executivo do Cimi, Lucia Rangel,
também organizadora do relatório; Marline Dassoler, missionária do
Cimi, além das lideranças indígenas Ernestina Afonso de Souza,
liderança do povo Macuxi, da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do
Sol, em Roraima; e Dário Vitório Kopenawa Yanomami, liderança do
povo Yanomami e vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami
(HAY).