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Há 100 anos, no dia 13 de fevereiro, tinha início a Semana de Arte Moderna. Até hoje, é considerada o evento cultural mais importante do país, um marco de inovação e criatividade na arte ao romper com os padrões estéticos da época e introduzir o modernismo no Brasil. Mas é especialmente importante pela valorização da cultura nacional e pela busca de uma independência e identidade culturais, que repercutiram ao longo das décadas posteriores.

Realizada de 13 a 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana contou com uma programação que incluía pintura, escultura, poesia, literatura e música. Dentre os artistas, Mário de Andrade, um dos principais nomes do movimento; Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Manuel Bandeira, na literatura; Heitor Villa-Lobos e Guiomar Novaes, na música; e Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Candido Portinari, nas artes plásticas.

Olhar para o passado nos ajuda a pensar e nos situar no presente e projetar o futuro. Nesse sentido, na celebração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, o momento é de refletir. Há no Brasil hoje um ambiente de retrocesso em todas as áreas, e a cultura é uma das mais atingidas.

Ao contrário do que aconteceu nos governos petistas, quando havia um projeto de valorização da nossa cultura, das culturas populares, tradicionais, indígenas, quilombolas e das periferias; das manifestações regionais, da valorização do patrimônio imaterial e da diversidade cultural, dos pequenos grupos artísticos, da economia criativa, do artesanato e tantas outras áreas que compunham, por exemplo, o Programa Cultura Viva. Como pano de fundo, uma concepção de cultura ampliada, pautada na valorização de nossa identidade e diversidade.

Essas ações, podemos supor, podem estar entre os legados desse conceito de cultura dos pioneiros de 22. O belo discurso do ministro-artista Gilberto Gil, em 2003, nos dá a medida dessa influência e nos inspira a retomá-la já!:

“A política cultural do Governo Lula, a partir deste momento, deste instante, passa a ser vista como parte do projeto geral de construção de uma nova hegemonia em nosso País. Como parte do projeto geral de construção de uma nação realmente democrática, plural e tolerante. Como parte e essência de um projeto consistente e criativo de radicalidade social. Como parte e essência da construção de um Brasil de todos (…).

 

“A multiplicidade cultural brasileira é um fato. Paradoxalmente, a nossa unidade de cultura unidade básica, abrangente e profunda também. Em verdade, podemos mesmo dizer que a diversidade interna é, hoje, um dos nossos traços identitários mais nítidos. É o que faz com que um habitante da favela carioca, vinculado ao samba e à macumba, e um caboclo amazônico, cultivando carimbós e encantados, sintam-se e, de fato, sejam igualmente brasileiros. Como bem disse Agostinho da Silva, o Brasil não é o país do isto ou aquilo, mas o país do isto e aquilo. Somos um povo mestiço que vem criando, ao longo dos séculos, uma cultura essencialmente sincrética. Uma cultura diversificada, plural, mas que é como um verbo conjugado por pessoas diversas, em tempos e modos distintos. Porque, ao mesmo tempo, essa cultura é una: cultura tropical sincrética tecida ao abrigo e à luz da língua portuguesa.” (GIL, 2003)