Publicado originalmente no jornal Hoje em Dia, 06/05/2012
Patrus Ananias
A corrupção não é uma característica nacional. É um problema e um desafio que dizem respeito à condição humana. Agora mesmo estamos vendo os estragos que um poderoso empresário dos meios de comunicação, Rupert Murdoch, provocou na Inglaterra. Há alguns anos vimos a ação articulada e criminosa da máfia com políticos e empresários na Itália que levou à famosa Operação Mãos Limpas.
O povo brasileiro, na sua grande maioria, não é corrupto. O melhor da nossa gente está na pobreza honrada e trabalhadora, na média laboriosa, nos profissionais liberais, empresários e servidores públicos que ganham a vida com honestidade e consciência social.
Por outro lado, a corrupção deita raízes profundas na história do Estado brasileiro. Começou com as capitanias que davam aos donatários benefícios privados e poderes ou privilégios estatais. É o início dessa relação promíscua que nos acompanha entre o público e o privado, levando à privatização dos bens públicos. Nos desdobramentos das capitanias hereditárias, vieram as sesmarias e o coronelismo, que projeta a sua sobra até os nossos dias. O poder incontrastável dos coronéis nos seus feudos e junto às mais altas esferas de poder possibilitam a pergunta que desconhece normas de cidadania: “você sabe com quem está falando?”
O processo de crescimento das cidades no Brasil e de ampliação das obras públicas, especialmente no período da ditadura, possibilitou o surgimento de novas formas de poderes urbanos e empresariais sempre prontos para o assalto ao dinheiro e aos terrenos públicos.
A ação vigorosa e competente de setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário que não perderam a consciência da dignidade de seus cargos e responsabilidades está expondo as entranhas da corrupção aos olhos da sociedade e exigindo medidas enérgicas e históricas.
O caso mais recente levou à formalização de uma CPI para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos. Esse caso explicita a perversa rede que se armou para literalmente saquear o país. Os fatos, que a cada momento surpreendem a indignam a consciência nacional, me levaram a resgatar na memória o filme Os Infiltrados, de Martin Scorsese, que traduz com dolorosa fidelidade a forma como se organizam e agem essas organizações em outros países, no caso, os Estados Unidos, para se colocarem dentro do poder.
Não cabem mais concessões! Em nome das futuras gerações brasileiras, carece estabelecer a linha divisória entre os que querem servir ao Brasil e os que querem servir-se dele e por fim à era da corrupção impune. É hora, como queria o saudoso Darcy Ribeiro, de passar o Brasil a limpo.