Por Leonardo Boff
Há muitos cristãos que são políticos. Mas não são muitos os políticos que fazem de sua fé cristã uma fonte de inspiração para compromissos em favor da vida, dos direitos e dignificação dos pobres. Um desses cristãos é o amigo e homenageado Patrus Ananias. Sua trajetória política é notória: desde vereador, prefeito, deputado federal até o alto posto de Ministro de Estado.
Conheci-o como jovem inquieto que, a conselho de Alceu de Amoroso Lima (Tritão de Athaide), me procurou, ainda como jovem teólogo no convento em Petrópolis, nos meados dos anos 1970. Pelas suas muitas perguntas de orientação política engajada cheguei até a suspeitar de que fosse alguém ligado aos órgãos de vigilância e repressão do regime militar. Não era. Era alguém ávido por buscar um caminho de vida, comprometido com o direito, a justiça e o engajamento social em favor dos pobres. Foi o que se tornou Patrus Ananias.
Foi advogado, servidor público, professor universitário e um político admirado por seu compromisso social. Não sem razão inscreveu-se no Partido dos Trabalhadores (PT) no qual via um meio para realizar seu propósito fundamental de vida: o engajamento concreto com as mudanças sociais que incluíssem as grandes maiorias injustiçadas. Em 2004, nomeado Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e à Miséria, encontrou espaço para dar corpo ao seu sonho. Coube a ele implementar a Bolsa Família que, em seu mandato, incluía 13 milhões de famílias.
Fascinado pelos livros, também os de literatura infantil, encontrei-o em seu escritório no Ministério em Brasília lendo com entusiasmo a obra organizada por Maurice Crouzet, “A história da Civilização”. Tinha seus mestres preferidos, Edgar da Mata Machado, Jacques Maritain e os franceses, promotores do personalismo comunitário cristão também alguns teólogos e biblistas brasileiros.
Mas seu grande mestre, para o qual tinha e tem um imenso fascínio, foi e é Jesus de Nazaré. Nele admirava especialmente o homem que combinava sua paixão pelo Deus-Abbá na oração e meditação com sua paixão pelos sofredores deste mundo com práticas concretas de compaixão, de cura e de libertação. Logicamente sempre afirmou sua divindade. Mas ela irrompia quando ele, como político e homem de ação, aprofundava a humanidade do Nazareno, para, então, concluir: humano assim como Jesus somente Deus mesmo.
À luz da figura de Jesus, de sua mensagem e da grande tradição cristã, Patrus também combina a vida do espírito com o compromisso ético de transformação social e de inclusão dos marginalizados e feitos invisíveis.
Pelos seus setenta anos homenageamos o homem íntegro, o político coerente e o cristão exemplar. Homens como Patrus Ananias são fundamentais para projetarmos um Brasil diferente, libertado das dependências coloniais e neocoloniais e a caminho de sua refundação como nação de cidadãos livres, nação justa, fraterna, altiva e soberana.
Leonardo Boff é teólogo e ex-professor de ética, filosofia da religião e de ecologia da UERJ.