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Ontem, tive o prazer de palestrar na homenagem ao grande escritor mineiro Guimarães Rosa para a exposição Um olhar para Sertão no Conselho Regional de Engenharia (CREA-Minas), onde abordei a temática “Poderes, chefias e pobrezas em Grande Sertão: Veredas”. Esta magnífica obra de Guimarães está profundamente mergulhada na questão política, além de toda a sua cálida brisa poética-sertaneja em retratar o norte de Minas Gerais. Fiz uma reflexão, após a quinta leitura de uma das maiores obras da literatura brasileira, sobre a questão do poder e como ela altera a cabeça das pessoas, assim como ocorreu em diversos personagens, como Zé Bebelo e o famigerado Riobaldo.

O romance roseano não é uma obra política no sentido menor da palavra: datada, ideológica, doutrinária. A dimensão política se insere no contexto mais alargado da criatividade linguística e da expansão da linguagem brasileira universal.

Ao tratar a política na obra, digo política com P maiúsculo do bem comum, ela não dá conta ela busca a experiência religiosa, a arte, entre outros. A política é uma dimensão da obra de Guimarães Rosa, que tem diversas leituras e abordagens em um só livro. O Brasil que emerge como pano de fundo na grande viagem roseana é o que nós bem conhecemos pela nossa história e formação. É um relato de um Estado distante, quando não totalmente ausente. É a sofrida busca de uma modernização tardia que se expressa na referência a Coluna Prestes e nos sonhos e palavreados meio desembestados de Zé Bebelo. O Sertão exposto por Rosa é um Sertão que vence o mais forte com as astúcias. O Sertão de tantos personagens como Medeiro Vaz, Joca Ramiro, Hermógenes, o Sertão de jagunços, o Sertão de pobres abandonados pelas terras a fora, o Sertão sem lei.

Discorri sobre as inúmeras aparições do poder, da política e das críticas sociais: a penúria, as mazelas e a vida árida no norte de Minas. Mas, principalmente, o amor por Diadorim. O Grande Sertão: Veredas e a própria obra de Guimarães Rosa nos ajuda a compreendermos o Brasil. Nós temos um enigma nas mãos. Como um país com este tamanho, com tantas possibilidades e potencialidades, como é que este país não se acertou, especialmente na questão da justiça, da liberdade, da República. O grande prazer de ler, reler e tresler Guimarães Rosa é como o seu Sertão: “O sertão é do tamanho do mundo. Sertão é dentro da gente”.