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Hoje celebramos os 80 anos do grande companheiro Célio de Castro, sempre presente. Em 2009, por ocasião das celebrações do primeiro aniversário de sua morte, escrevi o texto abaixo. Na época, recebi, de presente da família, os óculos do amigo Célio, que tantas recordações nos trazem: o próprio amigo, o trabalho na prefeitura, o carinho pelas crianças, suas predileções literárias.

Patrus Ananias

Desde o dia 20 de julho sou fiel depositário dos óculos do amigo Célio de Castro. Recebi este belo presente de sua família, quando estávamos reunidos em memória do primeiro aniversário de sua morte. Faltaram-me palavras de agradecimento por tão elevada homenagem. Difícil descrever a emoção de tê-los comigo, evocando a bela presença do amigo. Vai ser uma presença permanente e certamente estarei lendo alguns textos com esses óculos do Célio com o olhar dele.

Os óculos têm uma dimensão simbólica. Resgata-me logo a lembrança de Miguilim, que começa a ver o mundo quando o tio vai com ele na cidade, faz o exame de vista e ele descobre que o mundo é muito mais amplo, mais iluminado, muito mais colorido do que percebera até então. E foi justamente para reforçar o desejo de ampliar a visão que batizamos, na prefeitura, em 1993, o Projeto Miguilim, voltado para crianças pobres de BH. Lembro-me como se fosse hoje: Célio, vice-prefeito, havia assumido também a Secretaria de Desenvolvimento Social e nós havíamos elegido a criança, especialmente a criança pobre, com especial ênfase nas crianças com trajetória de rua. Célio me falou que o sonho dele era que as crianças de rua, as crianças pobres pudessem ampliar o seu olhar sobre a vida, expandir a consciência e seu olhar.

Eu e Célio compartilhávamos forte cumplicidade mediada na obra de Guimarães Rosa. Quando estávamos na prefeitura, ele me deu de presente de aniversário a primeira edição de Sagarana, de 1946, com uma dedicatória belíssima. São essas sutilezas familiares que me tocam o coração quando me lembro delas. Hoje estou aqui, de posse desses óculos que pertenceram a um homem de tantas e tão belas leituras…

Célio de Castro foi um homem que acreditou na palavra, no diálogo. Na construção de pontes entre os homens. Não há dúvidas de que ele está presente entre nós. Na tradição cristã cultivamos a dimensão da ressurreição, que está vinculada à categoria da presença, como bem definiu um filósofo cristão, existencialista, Gabriel Marcel. A presença, referência fundamental para Marcel, é também a busca de quem diz: “não morreu”.

Nosso compromisso é reafirmar: um homem como Célio veio para ficar, pela sua vida como médico, como político, estadista, humanista, como homem de cultura, homem de letras. Que façamos este pacto: Célio de Castro ficará presente e vamos pensar sempre nele, testemunhá-lo. Com certeza, cada vez que estivermos o Célio presente nós seremos um pouquinho melhores.