Publicado originalmente no jornal Hoje em Dia, edição de 01/07/2012
Patrus Ananias
Ações recentes do Ministério Público de Minas Gerais, da Polícia Federal e outros órgãos públicos de fiscalização e controle expuseram, mais uma vez, a rede perversa da corrupção vinculando agentes públicos e setores privados. As operações “Máscaras da Sanidade” e “Laranja com Pequi” incidem em uma região que muito fala ao meu coração e à minha memória – o Norte de Minas, também chamado Sertão de Minas, os Gerais.
É um território que conheço bem: possui muitos recursos naturais e humanos e amplas possibilidades de desenvolvimento integral e sustentável. Todavia, os desacertos históricos, a enorme concentração da terra a das riquezas, a carência secular de políticas públicas integradas, a devastação de ecossistemas como o cerrado e de bacias fluviais como o Jequitinhonha e o próprio São Francisco, fizeram do Sertão mineiro uma região empobrecida para a maioria de seus moradores.
As políticas públicas sociais implementadas e desenvolvidas com amplitude no Brasil pelo governo Lula atendem a milhões de pessoas na região através de programas como o Bolsa Família, o Luz para Todos, o Programa de Cisternas, só para citar alguns dos muitos. O elevado número de famílias atendidas atesta as enormes carências regionais.
Os recursos públicos municipais e os que são repassados pelo governo estadual e, sobretudo, pelo governo federal ainda não deram conta de atender as demandas básicas da população. São muitas vezes precárias as obras e serviços de infraestrutura nos setores de saneamento básico, transportes e comunicação. As possibilidades que se abrem com o desenvolvimento regional, os consórcios intermunicipais, o cooperativismo e a economia solidária estão longe de apresentarem resultados que efetivamente contribuam para melhorar a vida das pessoas, famílias e comunidades pobres.
É nesse contexto de carências e privações de sonhos e esperanças não cumpridos que foram subtraídos aproximadamente R$ 500 milhões de recursos públicos, nas contas preliminares das duas operações que se articulam com outras anteriores na região.
Dentre as muitas pessoas boas, visceralmente comprometidas com o povo brasileiro, que a região deu a Minas e ao Brasil, resgato duas: Darcy Ribeiro e Herbert de Souza, o Betinho. O primeiro, entre outras causas generosas, levantou a questão da educação das nossas crianças e jovens em escolas que sejam realmente formadoras. O segundo mobilizou a consciência nacional no combate e na superação da fome e da pobreza. O que diriam eles diante desta monstruosidade: o roubo do dinheiro público destinado à merenda das crianças pobres que frequentam as maltratadas escolas públicas norte-mineiras?
Reitero o que disse em artigo anterior: é crime hediondo e deve mobilizar toda nossa indignação cívica.