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Publicado originalmente no jornal Hoje em Dia, em 1/04/2012

Patrus Ananias

Nós, militantes políticos e sociais, possuídos pelo desejo e pelo compromisso de uma vida melhor para todos, especialmente os mais pobres, vivemos uma tensão permanente: de um lado, somos desafiados pelos sonhos das utopias mais generosas. Queremos construir uma sociedade que possibilite a cada ser humano desenvolver os seus talentos e contribuir para o bem comum e a construção da paz. Na perspectiva cristã, essa utopia se traduz na realização, ainda que parcial e progressiva, do reino de Deus na terra. Os melhores representantes da tradição marxista anunciaram a possibilidade de uma sociedade sem classes, no pleno encontro da liberdade e da igualdade.

Por outro lado, convivemos com os duros limites da realidade. A violência, os gastos astronômicos com a indústria e o comércio de armas, as injustiças sociais, a corrupção, os governos tirânicos que afrontam a cada momento os direitos humanos.

Alguns, cansados dos desacertos humanos esquecem os difíceis problemas que nos afligem e optam pelo idealismo e nem sempre constroem caminhos e alternativas. Outros, cansados da espera, se submetem ao pragmatistmo e abdicam dos projetos libertários. Os que perseveramos na fidelidade aos nossos melhores desejos e queremos traduzi-los na prática buscamos os caminhos possíveis, sem tirar o olhar do horizonte de uma sociedade emancipada e justa.

Sabemos, todavia, que para chegarmos lá, ou pelo menos nos aproximarmos, precisamos abrir as picadas e construir as estradas. Coloca-se aqui o desafio das mediações e alianças na busca de objetivos maiores. Vivemos em sociedades complexas e diferenciadas. O mais grave e desafiador: sociedades cada vez mais fragmentadas.

Vivemos uma época em que as metas são cada vez mais reduzidas a grupos de interesses particularizados. A construção de consensos essenciais à expansão da democracia do desenvolvimento e da justiça social torna-se um processo cada vez mais árduo e difícil. Não podemos, entretanto, abdicar de nossos compromissos e responsabilidades com o presente e com as gerações futuras.

Coloca-se a cada dia a árdua tarefa do diálogo, das negociações e dos acertos que permitam o avanço, ainda que tantas vezes lento e tardio, das relações humanas e sociais. A justa medida de nossas ações não está posta de antemão. Trata-se de uma busca permanente para encontrar, através do discernimento político, o espaço que devemos ocupar.

A história não foi complacente com aqueles que, mesmo imbuídos dos melhores propósitos, não consideram devidamente o contexto de sua ação. Entre o bom e o ótimo temos tantas vezes que calçar as lentas sandálias da humildade e assumir o possível sempre na perspectiva de expandi-lo na direção da vida e dos direitos que a asseguram e promovem.