O tempo passa ligeiro. Chegamos mais uma vez às celebrações
natalinas, que o mundo cristão e a humanidade vivenciam há mais de dois mil
anos. Celebramos a presença de Jesus entre nós.
Jesus deixou um legado – ensinamentos e exemplo existencial
– que chega com muita intensidade aos nossos dias. Não são poucas as pessoas, famílias e comunidades que procuram seguir os seus passos e as suas palavras.
Por outro lado, os donos do poder econômico que comandam o mercado – essa nova divindade dos nossos dias que incide com tanta força nos
espaços da política e das relações humanas -, contrapõem um código de valores e procedimentos que confrontam os valores cristãos ensinados e vividos por Jesus. Querem impor o primado do dinheiro, do consumismo fundado na propaganda quase sempre enganosa, do individualismo. Colocam o direito de propriedade – direito em princípio legítimo, mas que não pode ser absolutizado – acima dos direitos que promovem a vida, o bem comum, a justiça social.
É presente nos nossos tempos o debate sobre a separação entre o Estado e as religiões, separação esta que considero correta na perspectiva do Estado Democrático de Direito, dos Direitos Fundamentais que acolhem a liberdade religiosa e de não-crença, as diferenças, a diversidade.
No entanto, os ensinamentos de Jesus transcendem a dimensão individual e enlaçam as relações humanas nas suas dimensões coletivas, comunitárias, nas relações com a natureza. É instigante que Jesus coloque nesta perspectiva convivencial a oração que nos ensinou: o Pai-Nosso.
Não vejo como negar a dimensão política – no sentido mais alargado da palavra, a “política como a arte do bem comum” – de muitas e belíssimas passagens evangélicas. Lembremos o Sermão da Montanha ou das Bem-Aventuranças:
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”, “bem-aventurados os que promovem a paz”… Lembremos o critério rigoroso do julgamento final:
“Eu tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; eu era estrangeiro e acolheste-me, estava nu, e vestiste-me; estava doente e visitastes-me; estava na prisão e viestes até mim”.
Interpelado pelas pessoas justas quando isto aconteceu, respondeu-lhes:
“Todas as vezes que fizestes a uma desses mais empobrecidos dos meus irmãos, a mim o fizestes”.
Tantas outras passagens evangélicas nos repõem o amor e o compromisso com os pobres, com as pessoas próximas, com os excluídos, com as mulheres. “Vim para que tenham vida e a tenham em plenitude”. A leitura e as reflexões compartilhadas dos textos evangélicos são o caminho para conhecermos Jesus de Nazaré e o seu testemunho que atravessa os séculos.
Que neste Natal cresçam em nós os sentimentos de amor, de paz, de justiça, de compaixão, sentimentos e práticas que o Brasil tanto carece.
Que Jesus se faça presente entre nós.
Paz e bem!
Patrus Ananias – Deputado Federal PT/MG
* João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas