2024. Ano eleitoral nos 5560
municípios brasileiros: eis aqui um bom desafio para o Partido dos Trabalhadores
e das Trabalhadoras, bem como para os partidos e movimentos sociais que atuam
no campo da esquerda democrática.
No contexto eleitoral, é inegável
a importância das pesquisas para melhor avaliarmos os sentimentos, os desejos e
as demandas das pessoas e, a partir delas, das comunidades. Importante para
darmos, então, aos nossos conteúdos programáticos e à linguagem, através da
qual eles se explicitam, as adequações necessárias a uma boa, acolhedora e
eficaz comunicação. Além de aproveitarmos da melhor forma possível os meios de
comunicação tradicionais – emissoras de rádio, TV, jornais, publicações – temos
de enfrentar os desafios e as possibilidades colocados hoje pelas redes
sociais.
Assim, sem desconsiderar a
importância dessas questões mencionadas, considero que a importância maior está
nos conteúdos propositivos a serem apresentados às populações locais e
regionais. Refiro-me expressamente aos projetos. O resgate do modo petista de
governar e do modo petista de legislar no plano municipal.
O ponto de partida está, a meu
ver, na afirmação da nossa soberania e do Projeto Nacional – projeto do país
que nós queremos! – que se enraíza na
diversidade regional e cultural das nossas macro, meso e microrregiões, com
suas identidades históricas, culturais, geográficas, ambientais, econômicas. É
nessas regiões que encontramos os municípios e regiões metropolitanas, os quais
devem ser administrados levando em consideração suas particularidades, sem
deixar de lado sua integração com a pátria brasileira.
Quando pensamos as questões, as
demandas e os problemas que envolvem os conteúdos programáticos das eleições
municipais, devemos considerar que todos eles estão, muitas vezes ou quase
sempre, interligados aos grandes temas nacionais. A Constituição brasileira
visa promover a colaboração e integração entre as esferas municipal, estadual e
nacional. Essa integração é a essência do SUS (Sistema Único de Saúde) e do
SUAS (Sistema Único de Assistência Social). Atualmente, e dentro dessa
perspectiva, tramita na Câmara dos Deputados o projeto que institui o SNE
(Sistema Nacional de Educação).
O Projeto Nacional e a Soberania
Popular do País devem ter, portanto, as suas raízes bem plantadas nos
municípios brasileiros e nas regiões em que estão inseridos, considerando aí
com a maior atenção as regiões metropolitanas que enfrentam hoje tantos
desafios vinculados ao trabalho decente, bem reconhecido e valorizado; à
moradia digna; ao transporte coletivo limpo, presente e eficaz; à segurança
pública cidadã comprometida com a proteção da vida; ao meio ambiente saudável
que preserva e amplia as fontes da vida.
A abordagem eficaz destes
desafios e dos temas vinculados às políticas públicas e aos sistemas nacionais
– educação, saúde, assistência social, segurança alimentar – exigem, para se
tornarem realidade, uma efetiva integração entre as esferas municipal, estadual
e nacional.
Desafios de tamanha relevância
que incidem diretamente sobre a vida das pessoas e o bem comum não podem ser
abordados de forma discursiva e burocrática como fazem tantos políticos e
candidatos. Basta observar durante as campanhas quantas vezes a educação, a
saúde, a segurança, o trabalho e o emprego são 2 mencionados como se pudessem
se concretizar apenas com palavras e promessas. Esses desafios demandam projetos
bem elaborados e ações eficazes e transparentes.
Sob esse olhar e compromissos, as
nossas campanhas eleitorais devem ser pedagógicas e programáticas. Colocarmos
as perguntas básicas: o que fazer? como fazer? com quem fazer? O fazer não se
restringe às obras e implementação das políticas públicas. Diz respeito também,
na esfera do legislativo, às propostas e projetos de lei, às relações com a
comunidade. Essas relações são fundamentais para avançarmos na perspectiva de
uma democracia direta e participativa. Precisamos repor no cenário político
nacional, a partir das cidades, a democracia participativa; o planejamento e o
orçamento participativos.
Este é um tema e uma prática
política sobre as quais tenho refletido e atuado. Vivemos notáveis experiências
quando governamos Belo Horizonte (1993-1997). As reflexões estão registradas em
vários textos, incluindo alguns presentes no livro “Reflexões sobre o
Brasil”.
Outro bom desafio: identificar os
pontos convergentes entre realidades urbana e rural, preservando, com
discernimento, as diferenças e especificidades. Emergem, todavia, confluindo as
realidades urbanas e rurais, a questão ambiental, a preservação do ar, das
nascentes das águas; a implantação efetiva das políticas públicas; o
desenvolvimento regional.
As nossas cidades, especialmente
aquelas com maior densidade demográfica, como as regiões metropolitanas, estão
se tornando inviáveis, contrárias à vida, ao bem-estar das pessoas e famílias;
dificultam as relações e o convívio humano, as relações com a natureza. No
Brasil, o direito de propriedade continua sendo sagrado e absoluto. Intocável.
Não se trata de abolir esse direito, garantido pela nossa Constituição, mas sim
de considerar também a função social propriedade. Podemos hoje acrescentar:
função social e ambiental. Trata-se de ampliar o direito de propriedade,
assegurando moradia decente às famílias e trabalhadores empobrecidos. Trata-se
de adequar o direito de propriedade às crescentes exigências relacionadas à
natureza, ao meio ambiente, às fontes da vida.
Absolutos são os direitos que
incidem diretamente sobre a proteção e a promoção da vida. Os demais direitos
devem se integrar na busca do objetivo maior que dá nexo e coesão a um país e
seu povo: a afirmação da soberania nacional e popular; a realização do projeto
nacional brasileiro, sem exclusões, proporcionando uma vida digna através da
efetiva garantia dos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição da
República.
Finalizo conclamando às direções
municipais, estaduais e nacional do nosso Partido, à militância petista, aos
militantes do campo democrático popular e, sobretudo, aos nossos candidatos e
candidatas às eleições municipais deste ano, para que se empenhem em conectar
as questões municipais com as questões e os desafios nacionais. Não podemos
permitir que o Brasil se transforme em 5560 ilhas isoladas. Queremos todos os
municípios e as regiões metropolitanas integrados e dando suporte ao Projeto
Nacional Brasileiro.
Na campanha vitoriosa que fizemos
para governar Belo Horizonte em 1992, tivemos como marca de campanha mudar o
País, mudar a cidade. Agora, com o presidente Lula mais uma vez à frente do
nosso país, temos que pensar e pôr em prática projetos que vinculem as nossas
cidades, com suas especificidades, ao momento histórico que estamos vivendo no
plano nacional.
Patrus Ananias
Deputado Federal – PT/BH
Fevereiro de 2024