Lideranças admitem que sigla precisa de “nova receita” para reconquistar o apoio de parte da população
A comemoração do PT pela vitória na disputa presidencial terá que dar espaço para a reconstrução do partido frente ao resultado apertado do último domingo e a uma provável divisão do país em relação ao próximo governo. Lideranças petistas e analistas políticos defendem que, logo no primeiro semestre do novo mandato, a presidente reeleita, Dilma Rousseff, coloque em prática parte da lista de promessas feitas ao longo da campanha, em especial no que diz respeito ao combate à corrupção – principal gerador do sentimento antipetista.
A pressão por uma reformulação do partido, que há 12 anos está à frente do governo federal, é classificada por alguns como um “terceiro turno” das eleições. No dia seguinte à vitória, integrantes do PT admitiram que o partido terá que se reinventar. Apesar de considerarem os programas sociais, como o Bolsa Família, fundamentais, defendem que o novo governo traga inovações, atingindo também a classe média.
O temor de parte da população com relação aos próximos anos pode ser parcialmente resolvido se Dilma pressionar por um rápido andamento da reforma política, assunto recorrente na campanha, que, na visão dos petistas, seria mais uma resposta à tentativa de combate à corrupção. Para o ex-ministro do governo Lula Patrus Ananias, mudanças nas regras eleitorais são fundamentais. “A corrupção está dentro disso. Não será fácil, é fundamental uma mobilização dos partidos e que o PT faça uma revisão interna, recuperando a premissa da ética”, opina.
A ideia é que Dilma aproveite que seu rival, Aécio Neves (PSDB), também defendeu as reformas para tentar uma agenda comum no Congresso, inclusive com partidos adversários. A tarefa, porém, não será fácil.
Outra perspectiva do PT é a criação de programas que consigam ir além do Bolsa Família – este deverá ser transformado em política de Estado. “É preciso pensar na classe média. Criar artifícios para agradar essa ala da sociedade, que rejeitou em alguns momentos o nosso partido”, ressalta o presidente do PT de Minas, Odair Cunha. Entre as soluções, o dirigente prevê que o Minha Casa, Minha Vida atinja novas faixas de renda e que haja mudança na cobrança do Imposto de Renda.
O cientista político da PUC-Minas Bruno Almeida defende as mesmas ações. “Mexer na carga tributária que atinge o assalariado, como no Imposto de Renda e o próprio controle da inflação, já são recados importantes para o trabalhador”, acredita Almeida.