As festividades e celebrações como o Natal e o Ano Novo enfocam, com muita ênfase, palavras anunciadoras como felicidade, paz, amor, alegria, esperança, solidariedade e justiça. O Natal nos repõe a pessoa de Jesus de Nazaré que agrega em torno de sua mensagem profética e libertária pessoas de boa vontade que, independente de credos religiosos, querem ajudar as suas comunidades locais e regionais, o Brasil e o mundo a serem espaços mais razoáveis e sensatos do ponto de vista da convivência humana e das relações sociais, incluindo o respeito à natureza e o compromisso com as gerações futuras.
O início de um novo ano sempre nos traz a promessa de avanços e conquistas pessoais, familiares e coletivas. Para muitos é a possibilidade do recomeço e do sonho de novos projetos.
Em torno desses sentimentos, familiares e amigos se encontram. Além de orações e cantos, são os abraços e a troca de presentes. Pessoas distantes telefonam, enviam mensagens eletrônicas, alguns, de hábitos mais conservadores, insistem nos velhos cartões e generosas cartas.
Parece-me inegável que ocorre nesse período uma liberação de afetos e sentimentos bons. De diferentes formas o outro, os outros, se faz e se fazem presentes.
Alguns radicalizam – no melhor sentido da palavra: ir às raízes, resgatar a essência – o seu compromisso com o próximo e a dimensão comunitária da vida, e vão ao encontro dos mais excluídos, como os moradores de rua; os doentes nos hospitais e os doentes que neles não encontram vagas; são os presos, muitos injustamente sem processos e sem advogados; os moradores das comunidades mais pobres sofrendo, muitas vezes, a violência dos dois lados – dos criminosos e das autoridades policiais. São aqueles que põem em prática os ensinamentos de Jesus.
A realidade, que os mensageiros do bem e da compaixão enfrentam com coragem na busca dos mais sofridos, não se deixa diluir pelos festejos e fogos de artifício e insiste nos momentos mais comemorativos, em bater à porta das nossas consciências e dos nossos corações. Nos feriados de 22 a 25 de dezembro, 65 pessoas morreram nas estradas de Minas e 222 nas estradas do Brasil. São números que correspondem a uma guerra civil brutal, na proporção ou mesmo superior aos números de mortos na Síria, cujo drama comove as consciências bem informadas do Brasil e do planeta. Eu logo penso: por trás de cada vítima, há mãe, pai, filhos, avós, netos, irmãos, parentes, colegas, amigos. Um sofrimento enorme! Um custo moral, psíquico e emocional incalculável, que se coloca muito além das cifras e dos cálculos humanos. Além dessa dimensão impagável, há um preço brutal para a sociedade através dos serviços médicos e previdenciários destinados a cuidar das vítimas que não perderam a vida, mas foram duramente atingidas na sua estrutura física e/ou psicológica.
Mas mesmo assim, sem perder o olhar atento sobre nós mesmos e o meio em que estamos inseridos, sem perder a sensibilidade e a capacidade de nos comover com o sofrimento de nossos semelhantes, vamos olhar confiantes para o futuro e acolher 2013 com bons augúrios.
Desafios e desacertos não vão faltar, além da violência do trânsito e dos homicídios, pelos mais variados e indesculpáveis motivos, há também os crimes contra os bens públicos e a economia popular que continuam impunes, para muito além do julgamento teatral do chamado mensalão. Mas como diz a letra da canção imortalizada na voz de Elis Regina “desesperar jamais, aprendemos muitos nesses anos… no balanço de perdas e danos… já tivemos muitos desenganos, mas agora, acho que chegou a hora de fazer valer o dito popular”. Não vamos entregar o jogo. O Brasil na área social deu um salto extraordinário. Estamos próximos, se continuarmos no mesmo rumo e intensificarmos o ritmo da caminhada, de vencermos a luta secular contra a fome e a miséria. No juízo moral do código evangélico não é pouca coisa! Caminhemos, pois!