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Discurso pronunciado pelo deputado federal e ex-ministro Patrus Ananias, na manhã desta sexta, 13, durante abraçaço de protesto contra a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

“Nós esperávamos um governo de direita, mas não tanto. A gente fica triste em ver uma equipe de governo como a deles. Um governo que só tem homens e que é, portanto, um governo machista; um governo que só tem brancos e, portanto, um governo racista; um governo de velhos velhacos; um governo marcado pelo conservadorismo mais estreito. Não é um governo de direita e nem de centro-direita, mas de extrema direita.
Como é um governo ilegítimo, que nasceu de um golpe, nossa oposição será mais fácil.
Eles estão mostrando com muita rapidez o que eles representam e expressam. Quando acabam com o Ministério do Desenvolvimento Agrário eles estão colocando de lado na história do Brasil mais de quatro milhões de famílias de agricultoras e agricultores – mais de 16 milhões de pessoas.
Eles estão anunciando o fim do Pronaf; estão anunciando confronto direto com a juventude rural, com nosso plano de juventude e sucessão rural, com as mulheres rurais, com o programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar. Estão afrontando diretamente os movimentos sociais.
Além de extinguir o Ministério do Desenvolvimento Agrário, terminaram também com o Ministério da Cultura. Levaram a Previdência para a Fazenda. Em qualquer lugar do mundo isso seria um escândalo. O que é que espera agora os nossos aposentados, nossos trabalhadores e nossas trabalhadoras no campo e na cidade? Acabaram com o ministério das mulheres, da igualdade racial, dos direitos humanos e da juventude.
O nível dos ministros, do ponto de vista ético, do ponto de vista cultural, do ponto de vista de compromisso com o país, de representação, é uma afronta aos sentimentos mais profundos da nacionalidade brasileira.
O coração está dolorido, mas também estamos renascendo em novas fronteiras e novas lutas. Nós vamos continuar juntos. O nosso mandato de deputado federal estará sempre aberto. Vamos construir aqui em Brasília um grande conselho do nosso mandato; vamos realizar assembleias periodicamente.
É fundamental que as forças de esquerda, que os movimentos sociais do campo e da cidade, que a sociedade civil comprometida com um projeto digno de sociedade, que os partidos que votaram contra o impeachment façamos uma grande aliança pra avançarmos, resistirmos e conquistarmos novos espaços no campo dos direitos sociais.
Penso que neste momento, com esse governo de extrema direita, devemos buscar também uma interlocução de democracia, de preservação do Estado Democrático de Direito que interessa a setores que nem sempre concordam conosco nos nossos conteúdos, mas querem também preservar as regras do jogo e que, certamente, estão profundamente decepcionados com o que está acontecendo sob o governo do presidente interino.
O silêncio do país – de ontem para hoje – é anunciador. Se muitos de nós choramos, externamos a nossa angústia, o nosso sofrimento, muitos deles ficaram também perplexos. Esperavam uma coisa conservadora, mas com um mínimo de decência, de sinalização, de adesão à causa das mulheres, dos negros, das populações e povos tradicionais. Nada disso foi colocado. Então eu penso que nesse período de instabilidade que viveremos no país, eles começaram muito mal. Começaram com muita arrogância. Além do golpe, ficou claro também que o golpe é, sobretudo, contra as conquistas sociais que o povo brasileiro teve nos últimos anos.
Tenho a clara percepção de que está praticado no Brasil o golpe do capital. É o golpe do dinheiro. É para impedir a ascensão social dos pobres do Brasil. Isso está muito claro. Quando eles terminam com um ministério como o do desenvolvimento agrário, eles estão sinalizando claramente: é para acabar com a agricultura familiar e colocar a terra a serviço do grande capital. Quando terminam com este ministério sinalizam que não querem expandir o cooperativismo. Querem é a produção a qualquer preço, enlouquecida, ensandecida da soja à base de agrotóxicos, sementes transgênicas, pra exportação. Nenhuma atenção, nenhum sinal a favor do direito à alimentação saudável do povo brasileiro.
Acabar com o Ministério do Desenvolvimento Agrário é um tapa na cara das agricultoras e dos agricultores familiares do Brasil. É um tapa na cara das assentadas e dos assentados do Brasil. É um tapa na cara dos pobres acampados por este Brasil afora. É um tapa na cara das pessoas que querem, como nós queremos, uma sociedade justa e a produção de alimentos que efetivamente promovam a saúde e a vida das pessoas. Temos agora um governo inteiramente submisso aos interesses do capital e aos interesses das grandes empresas produtoras de agrotóxicos e de sementes transgênicas.
Este é um governo que tem cara – isso eles têm e, nesse sentido, é bom. Eles têm uma cara: é a cara da direita. Uma cara fascista. E, como eles mostram a cara, fica mais fácil pra nós explicitarmos as nossas diferenças.
E vamos afirmar aqui um compromisso. Vamos reafirmar aqui um compromisso: nós vamos derrotá-los!”