No dia em que o Presidente Lula completa 75 anos de uma bela e fecunda existência, quero falar sobre o amigo Lula, contar alguns poucos dentre tantos casos vividos nos quarenta anos do que partilhamos situações agradáveis e históricos desafios.
Vivíamos com intensidade os tempos inaugurais do Partido dos Trabalhadores no início dos anos 1980. Estávamos na sede do PT em Minas, eu era secretário-geral. Comigo estava o meu filho, hoje vereador Pedro Patrus, quando alguém me pediu para atender a extensão do telefone. O Lula queria falar comigo. Nunca esquecerei o espanto e a perplexidade alegres do Pê a perguntar-me: “Você conhece o Lula? Você fala com ele? Ele é seu amigo?”
Dias depois o Lula estava em Belo Horizonte. Contei-lhe o ocorrido. Ele ouviu atento e perguntou-me: “Que idade tem o Pedro?” “Seis anos”, respondi. Ele não escondeu a surpresa e disse: “Amanhã vou à sua casa para conhecer o Pedro”. Cumpriu bem a promessa e tivemos bons momentos de confraternização e boa prosa.
Candidato a prefeito de Belo Horizonte, em 1992, estávamos fazendo um comício no bairro Floramar, na Região Norte, quando a minha voz falhou, cansada de muitas falas em quase um ano de campanha. Lula ao meu lado, sempre atento, pegou meu microfone e não titubeou: “A voz do Patrus falhou, mas não falhará o compromisso dele com vocês”. E foi por aí, com sorrisos e aplausos das muitas pessoas presentes.
Um dos nossos assuntos prediletos é o futebol, onde encontramos um espaço privilegiado da criatividade nacional brasileira. Ele, corintiano, eu, atleticano, mas somos atentos apreciadores de todos os craques e times bons.
Na campanha de 1990, há 30 anos, encontramos nas andanças pelos caminhos de Minas com o Reinaldo, o inesquecível Rei da torcida atlética. O Reinaldo querendo aprender um pouco de política com o mestre Lula, mas o nosso então futuro presidente queria saber os segredos de Reinaldo para ter tanta intimidade com a bola. Como fazia para ter aquela acolhida no peito que fazia a bola adormecer.
Falou-me algumas vezes do seu apreço pelo futebol do Tostão – por quem eu tenho uma admiração muito especial –, recordamos jogos memoráveis pelo Cruzeiro e pela Seleção especialmente na conquista do Tri, no México, em 1970. Mas, confessou-me um dia que seu ídolo no time do Cruzeiro nos anos 1960 era o Dirceu Lopes.
Casualmente eu e a Vera encontramos com Dirceu Lopes em um restaurante em Brasília. Lula então já era presidente da República e eu, seu ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Perguntei ao Dirceu: “O Presidente Lula sabe que você está em Brasília? Ele é seu admirador.” A resposta de Dirceu veio rápida e alegre como era sua relação com a bola nos melhores dias: “Sim, ele ficou sabendo que eu estava aqui e me ligou, convidou-me para fazer-lhe uma visita. Passamos um bom tempo conversando…”
Após o nosso intenso e inesquecível convívio durante o seu, o nosso governo, fui visitá-lo certa vez no Instituto Lula, quando me viu não escondeu certa frustração. “Se você tivesse chegado meia hora antes teria encontrado Pelé!”
No exercício do ministério, o presidente Lula colocou-nos um desafio que não pudemos responder, dadas as limitações da conjuntura e a exiguidade do tempo que nos restava no governo. Este desafio não me esqueço e vai me acompanhando vida afora, sempre partilhando com outras pessoas. Fui, como fazia com relativa frequência, pedir um reajuste nos valores pagos aos beneficiários pobres do Programa Bolsa Família além de recursos para programas que interagiam diretamente com o Bolsa Família, como o Programa de Aquisição Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), restaurantes populares, cozinhas comunitárias. O presidente, acolhendo o nosso pedido, colocou então o histórico desafio. Olhando na janela os belos e alargados espaços de Brasília disse: “Quando virão aqui os beneficiários do Bolsa Família, para eles próprios reivindicarem seus direitos?”. Fiquemos por aqui.
Foi muito bom ter sido ministro do presidente Lula. Ele foi um notável presidente. Conhecia bem os caminhos do governo e muito ajudava os seus ministros, porque conhecia e conhece bem, muito bem, os caminhos do Brasil.
Penso que o melhor presente de aniversário ao Presidente Lula é aprofundarmos, sob a sua liderança, as reflexões e ações para que os pobres, trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, encontrem o caminho para colocarem as suas justíssimas reivindicações e que se abram os ouvidos moucos da capital brasileira para bem ouvir e acolher o clamor dos excluídos “dos que têm fome e sede de justiça”. Parabéns Presidente Lula!