Encerrei nos últimos dias a leitura de “Maquinação do Mundo: Drummond e a mineração”, de José Miguel Wisnik. Buscando os elos entre a história da mineração e a obra de nosso Carlos Drummond de Andrade, Wisnik constrói uma obra com alta dimensão ensaística que carrega também uma denúncia muito séria – a operação desmonte que a empresa Vale, então Vale do Rio Doce, fez na região de Itabira, terra natal do escritor. Uma referência geográfica muito cara a Drummond, o pico do Cauê, desapareceu pela exploração mineral. Foi cortado para extração de minério de ferro pela Vale do Rio Doce.
O livro traz reflexões muito instigantes sobre a obra de Carlos Drummond, mas a dimensão de denúncia é inegável. Foi lançado em 2018, ainda antes do crime da Vale em Brumadinho.
Há alguns anos, cheguei a Itabira de helicóptero para um compromisso e pude ver o estrago que aconteceu ali, as grandes paisagens devastadas pela ação humana. O mesmo acontece na serra do Curral, que depois de tão escavada e explorada guarda apenas a casca do que foi um dia, com impacto no equilíbrio natural e no clima de Belo Horizonte e de toda a região no entorno.
A tragédia humana e ambiental que ocorreu agora em Brumadinho, antes em Mariana, precisa levar a uma reflexão séria, a um debate com a sociedade, considerando a questão econômica mas também as consequências humanas, ambientais, os lugares da memória e da história que são afetados e por vezes destruídos e apagados pela mineração. Uma discussão que envolva a sociedade – as universidades, escolas, igrejas, a sociedade civil organizada, o poder público. É uma discussão permanente que precisa ser ampliada, pois há décadas Drummond já assumia parte dessa denúncia em sua obra.
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