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Patrus Ananias

O PT está vivo. Ferido, mas vivo; menor do que foi em anos recentes, mas vivo e povoado de reservas morais, espirituais, culturais e políticas que o credenciam a vencer os desafios que tem que enfrentar.
As análises publicadas após o primeiro turno das eleições municipais destacam, acima de tudo, a perda de apoio popular e de poder pelo Partido dos Trabalhadores.
É notório que o PT perdeu – e muito. Sua direção reconheceu “derrota profunda do campo democrático-popular, principalmente do nosso partido”.
Mas as urnas nos dão outras notícias, tão graves que tornam reducionistas, algo como obras de torcedores, as análises centradas no desempenho do PT e/ou outros partidos de esquerda.
As eleições deste ano foram as mais despolitizadas desde que entrou em vigência a Constituição de 5 de outubro de 1988. A indiferença e, em alguns casos, a agressividade das pessoas anteciparam o elevadíssimo número de abstenções e de votos brancos e nulos. Não foi difícil compreender, a partir das ruas e praças públicas e do resultado das urnas, que a maioria da população não se envolveu com o processo eleitoral.
Cabe, assim, uma autocrítica generalizada, a começar pelo Congresso Nacional, que não realizou a reforma eleitoral e política necessária às exigências das práticas democráticas que buscam novos espaços de transparência e participação.
Considero positivo o fim das contribuições empresariais. Mas os efeitos foram tímidos, porque os candidatos ricos, com seus círculos de amizades, levaram nítida vantagem. Foram mantidos e ampliados os currais eleitorais com a compra de votos e o apoio de muitas lideranças comunitárias e religiosas. E a redução do período eleitoral a 45 dias cerceou o debate de propostas entre candidatos e sociedade.
A omissão do Poder Legislativo continua permitindo a expansão da influência do Poder Judiciário, no caso, especialmente, da Justiça Eleitoral, que sai da função de julgar e pacificar os conflitos para exercer o papel de normatizadora e propagandista do processo eleitoral.
Cabe também uma rigorosa autocrítica aos partidos políticos. E, dentro da autocrítica que devem fazer os partidos comprometidos com o estado democrático de direito e com o bem-comum, cabe avaliar o pior desempenho eleitoral do PT em sua esplêndida trajetória ascensional de 36 anos.
O PT enfrenta uma duríssima campanha de setores da mídia em trabalho permanente de desgastá-lo, inclusive pela desqualificação de políticas públicas dos governos Lula e Dilma que resultaram em importantes e históricas conquistas nacionais. E foi transformado em alvo exclusivo de algumas ações da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Mas o fato de sofrermos perseguições com visíveis finalidades políticas e eleitoreiras não nos exime das nossas faltas, como a de aceitarmos as regras do jogo com relação ao financiamento privado das eleições e aos acertos daí decorrentes.
É forçoso reconhecer também que o PT perdeu a sua força inaugural, de quando garantia vez e voz aos militantes e simpatizantes através de cursos de formação política, debates, eventos de partilha de conhecimentos e experiências, encontros partidários.
É hora de seguirmos o conselho de Gandhi e fazermos em nós a mudança que cobramos dos outros.