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Patrus Ananias

    A vida nos ensina e a poesia de João Cabral de Melo Neto nos estimula a lembrar que “um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos”.
   Nós, os brasileiros e as brasileiras que lutamos pela democracia e a justiça social, construímos solidariamente algumas manhãs. Com persistência, energia e ousadia diante de sacrifícios e de adversários poderosos, vencemos ou começamos a vencer dramas injustamente acumulados há séculos sobre gerações e gerações de pessoas pobres; compartilhamos conquistas de imenso interesse popular; contribuímos, sim, para tornar o Brasil um país melhor para a maioria do povo; iniciamos a construir um projeto nacional e de afirmação internacional.
    Tudo isso está em risco, ameaçado por um golpe que reúne velhos e novos desafios e que é, antes e acima de tudo, contra os pobres.  
    Os desafios que estão postos e aqueles que já é possível vislumbrarmos constituíram, um mês atrás, a pauta dos debates que mantivemos – mais de uma centena de militantes das causas populares e democráticas – na Escola Sindical 7 de Outubro, em Belo Horizonte. Foi um encontro caloroso, animado, animador e orientador para o mandato que temos a cumprir, vocês e eu, nos próximos meses, sob a inspiração exclusiva dos interesses públicos.    
    Partilhamos a compreensão de que, por repetidas indicações dos golpistas, o golpe que tomou de assalto a Presidência da República exercida legitimamente pela presidenta Dilma Rousseff parece estar apenas no início. Ele não põe em jogo só uma mudança de eventuais grupos de poder. O que estamos vendo – e o que nos convoca a resistir ao golpe com todas as forças que formos capazes de mobilizar – é a execução de um projeto político conservador, ameaçador e restritivo aos direitos individuais, aos direitos sociais, às políticas sociais que, nos governos Lula e Dilma, levaram 36 milhões de brasileiros e de brasileiras a sair da extrema pobreza.
    Estamos desafiados a resistir ao golpe em curso e à agenda antipopular em marcha.   É e será jogo bruto. O governo golpista e interino de Michel Temer adotou, entre as primeiras iniciativas, uma medida provisória que desestruturou todas as pastas ministeriais cuja atribuição era garantir e expandir direitos previstos na Constituição de 1988 (mulheres, igualdade racial, direitos humanos, cultura, agricultura familiar e reforma agrária). Em outra medida, indicou o projeto econômico de voraz desestatização, com um imenso plano de privatizações. Aos golpistas isso faz sentido. Afinal, formam um governo do sistema financeiro nacional e internacional e, mais organicamente, um Governo de um legislativo tomado pela negociata.
    Está claro para os companheiros e as companheiras de nosso mandato, está claro para todos nós, que só poderemos reagir com eficácia ao projeto de retrocesso nacional adotado pelos usurpadores do poder se conseguirmos reorganizar a esquerda democrática e construir uma aliança como uma Frente Ampla de Esquerda, que proponha um projeto de nação e de governo. É a direção que apontam a formação da Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo, em franco avanço no curso do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Experimentar, fomentar e consolidar essas frentes em nível municipal, metropolitano, estadual e nacional é um desafio que precisamos enfrentar.
      Há uma agenda urgente a ser cumprida e implementada pelas esquerdas, começando pela tarefa de disciplinar o capitalismo brasileiro, ainda em estágio de barbárie, para sobrepor os interesses públicos aos interesses privados.
    Também é urgente realizarmos três grandes reformas estruturais: tributária, agrária e urbana.
     No plano político-institucional, temos que pensar num processo permanente de democracia participativa. A participação social deve voltar a ser pauta prioritária da esquerda no Congresso.
     Contribuiremos para isso, a começar pela construção de um mandato participativo.
     Que nosso mandato possa representar um espaço de convergência das mulheres e dos homens de boa vontade. E que cada um saiba que nosso compromisso de construir coletivamente faz de todos os participantes desse processo co-responsáveis por conquistar mentes e corações. Para que possamos construir um amanhã de paz que só pode ser fruto da justiça, é fundamental que hoje gritemos, com a mesma convicção de sempre: a luta continua.