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“Esta ação, o fato de estarmos aqui, pode tornar a população de rua visível para toda a cidade”, afirma a coordenadora da Pastoral Nacional dos Povos de Rua, Cristina Bove, idealizadora do Projeto Emergencial Canto da Rua, que desde sábado (13) acolhe pessoas em situação de rua em BH.

Irmã Cristina Bove, idealizadora do projeto, quer mais visibilidade para o povo de rua
Irmã Cristina Bove, idealizadora do projeto, quer mais visibilidade para o povo de rua

Funcionando na Serraria Souza Pinto, prédio histórico no centro de Belo Horizonte, o Projeto oferece espaços de higienização e banho, entrega de roupas, lanche, informações para evitar a propagação do coronavírus e orientações para assegurar os direitos de uma população extremamente vulnerável.

O interior do prédio e área externa receberam estandes e tendas para a prestação dos serviços. O acolhimento começa com a higienização, entrega de máscara e teste de temperatura por uma equipe da saúde, seguida de orientações. Foram montados banheiros, pias, uma lavanderia e uma área chamada de espaço social. Neste espaço ocorre diariamente uma roda de conversa, momento em que são levantadas as demandas e encaminhadas para um atendimento individual. Os pedidos mais recorrentes são segunda via de certidão de nascimento, casamento, carteira de identidade e informações sobre andamento de ações na justiça, porém luta por moradia, trabalho digno e segurança alimentar são temas presentes.

O acolhimento começa com higienização, entrega de máscara e teste de temperatura
O acolhimento começa com higienização, entrega de máscara e teste de temperatura

Nestes primeiros quatro dias de funcionamento, o projeto já atendeu 1167 pessoas. De acordo com os dados do Cadastro Único existem 4.553 pessoas em situação de rua em Belo Horizonte.

As pessoas podem tomar banho, recebem toalha e roupas limpas
As pessoas podem tomar banho, recebem toalha e roupas limpas

 

Parcerias ampliam o acolhimento

Contratada pelo projeto, a assistente social Flávia Gonzaga explica que com o fechamento dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e Centros Especializados de Assistência Social (Creas) as pessoas em situação de rua estão perdidas. “Não tem receita pronta, estamos buscando alternativas e aí entra a importância das parcerias”, afirma.  O projeto conta com a parceria do Ministério Público Estadual, Defensoria Pública Estadual, Sindicato dos Oficiais de Registro Civil de Minas Gerais e cerca de 60 organizações e projetos sociais, entre eles o mandato do deputado federal Patrus Ananias.

Júnia Roman Carvalho da Defensoria Pública Especializada em Direitos Humanos informa que a procura é por informações de ações em andamento. “São ações de reconhecimento de união estável, de separação e tivemos também um inventário. Um caso de um homem esquizofrênico, que após a morte da mãe, foi posto na rua pela irmã”. Com atendimento em torno de 10 pessoas por dia, a defensora acrescenta que o objetivo é atuar de forma que o atendimento seja finalizado no próprio local, a partir do retorno do demandante. “Com as dificuldades impostas pelo isolamento social queremos finalizar o atendimento de cada caso neste espaço”, conclui.

O objetivo é finalizar o atendimento aqui neste espaço – defensora pública Júnia Carvalho
O objetivo é finalizar o atendimento aqui neste espaço – defensora pública Júnia Carvalho

Em relação aos pedidos de documentos, Leila Xavier, assistente social do Sindicato dos Oficiais de Registro Civil MG, informa que recebe 35 pedidos por dia para segunda via de certidão de nascimento e casamento. Este é o primeiro passo para a pessoa em situação de rua acessar benefícios e serviços essenciais, entre eles o auxílio emergencial.

Idealizado pela Irmã Cristina Bove, o projeto é uma iniciativa da Pastoral de Rua de BH, ligada à Arquidiocese de Belo Horizonte. “Esta é uma parte projeto, a outra parte trabalha com hospedagem para a população idosa e com morbidades. Estamos alugando casas e colocando um grupo de 20 a 25 pessoas em cada uma, conseguimos alojar 66 pessoas”, informa Cristina Bove.

De caráter emergencial e educativo, o espaço de acolhimento permanece por dois meses no local. O projeto contratou 28 técnicos, conta com 150 voluntários e ainda prestadores de serviço do Projeto Cozinheiros Populares, que preparam diariamente 2.200 sanduíches. O atendimento é de 8 às 14h.

 

Resgate da rua

Após 20 anos vivendo nas ruas de Belo Horizonte, Marcelo Antônio Rodrigues está quase voltando para a casa.  Há quatro meses, ele integra a equipe do Projeto Cozinheiros Populares e lá reencontrou mulher e filha. “O trabalho me aproximou e quem sabe em alguns dias, estou voltando para casa”. Marcelo já frequenta a casa da família em Sabará (RMBH) e tem planos para ampliar a moradia.

Marcelo retomou contato com a família e agora se prepara para voltar para casa
Marcelo retomou contato com a família e agora se prepara para voltar para casa

Catador de material reciclável, com a pandemia e o isolamento social, Marcelo teve que suspender a coleta de materiais, seu itinerário incluía o escritório do deputado federal Patrus Ananias em Belo Horizonte.  Marcelo reconhece a importância de uma oportunidade. “Aos poucos a gente vai conseguindo as coisas que perdemos, faltava isto para dar uma alavancada e a gente agarra”, afirma.

Lanche Pias