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Patrus Ananias

Todas as vezes que passo em frente ao chamado Centro Administrativo sinto sentimentos fortes e conflitantes. De um lado, a indignação cidadã e cívica de ver uma obra faraônica, cara e desnecessária. Pergunto-me sempre: que benefícios essa obra trouxe ao povo de Minas Gerais? Melhorou a administração pública? Tornou o poder – que é também e, sobretudo, serviço público! – mais próximo das pessoas, das famílias, das comunidades, dos movimentos sociais? Criou condições necessárias para que os servidores públicos possam trabalhar em melhores condições e assim servirem melhor à população?

Do que sei o Centro Administrativo contribuiu para piorar as já precárias condições de trânsito e transporte coletivo nas avenidas Antônio Carlos, Cristiano Machado e Carlos Luz (Catalão) e para expulsar os pobres que moram na região. Houve como era previsto uma enorme valorização dos terrenos e logo começou a especulação imobiliária.

Por outro lado, por maior que seja a minha crítica ao desperdício do dinheiro público, não consigo conter a minha admiração pela obra esplêndida de Oscar Niemeyer. Uma maravilha! As curvas sensuais dos dois prédios parecem se encontrar envolventes, na entrega que dilui espaços e distâncias. Aristóteles ensinava que um dos caminhos para a sabedoria e o bem viver é a busca da medida justa, o ponto de equilíbrio, a síntese possível entre os muitos contrários, alternativas e possibilidades. Niemeyer encontrou na sua obra a justa medida. Nenhum excesso, nenhuma falta. A integração plena com a natureza. Se a obra maior é um conjunto de obras, ainda que semelhantes ou mesmo idênticas, há sempre o surpreendente marco da distinção. São os três poderes no conjunto arquitetônico de Brasília. É a Catedral esplêndida, discreta e acolhedora como convém ao melhor da tradição cristã, dando o ponto de inflexão no conjunto da esplanada dos ministérios, onde os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores são notas dissonantes, que, como na linguagem musical, só fazem realçar a harmonia que integra a semelhança das repetições e a surpresa mobilizadora das alterações e diferenças.

Niemeyer tinha um carinho especial pela obra da Pampulha que revelou o seu gênio ao Brasil e ao mundo. Preservar esse legado, e outras obras presentes na cidade, é uma responsabilidade nossa, dos belorizontinos.

Acrescem agora ao gozo dos nossos olhos e sentimentos os prédios, distintos, e ao mesmo tempo tão iguais, convergentes e complementares da Cidade Administrativa. É uma refinada obra da maturidade do artista, liberando em obra contida, a paixão medida de que falava Carlos Drummond de Andrade, todo esplendor da criatividade de Niemeyer, brasileira e universal.

A obra de Niemeyer está lá, pronta, definitiva para o encanto dos nossos olhos e sensibilidades. Além da dimensão estética fica o desafio: será também, no futuro, um espaço para expandir os sentimentos sociais e amorosos de Niemeyer? Se for assim, como esperamos, por que não promover logo o encontro de gerações entre Tiradentes, o nosso grande herói que empresta formalmente o seu nome à obra e Oscar Niemeyer? Ao invés do nome burocrático – Centro Administrativo -, vamos expandir o sonho do alferes e integrá-lo com os sonhos de Oscar Niemeyer. Como fazem os dois prédios na poesia do concreto e das formas. Tiradentes e Niemeyer sobre as bênçãos e olhares de Juscelino Kubitschek, de Cândido Portinari, de Roberto Burle Marx, de Darci Ribeiro…