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dedaA notícia da morte de Marcelo Déda, governador de Sergipe, ontem, dia 2 de novembro, tocou-me profundamente. Fiquei triste! Sabia que há alguns anos ele vinha lutando pela vida. Mas a morte de pessoas amigas sempre nos pega no contrapé. Sobretudo, quando são pessoas do bem e que muito tinham a oferecer ao nosso país, como é o caso de Déda.

Tenho dele boas lembranças. Nos tempos heróicos do PT, nos primeiros encontros do Partido no início dos anos 1980, ele era uma presença jovem e animada; ótimo contador de casos, bem humorado, animava as nossas festas, ágil e ritmado dançarino que era. 

O que ele fazia bem mesmo, acima da competência para as danças e cantorias, era discurso. Esplêndido orador! A relação fácil e amorosa com as palavras juntava emoção na dose certa, compromisso com as causas que defendia e a voz forte, sonora, bem modulada. Era um prazer ouvi-lo, tanto na conversa próxima e espontânea, quanto na tribuna, lugar que ocupava com gosto e brilho.

Prefeito de Aracaju, Governador de Sergipe, revelou outra dimensão de sua talentosa personalidade: admirável homem de ação e administrador público, exímio também na arte de traduzir as palavras em obras e políticas públicas, sempre com a maior correção e honestidade.

Quando uma boa parte dos meios de comunicação, sob o comando da Rede Globo, resolveu confrontar para destruir as políticas públicas sociais implantadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome no governo Lula, especialmente o Programa Bolsa Família, muita gente preferiu o silêncio e a discrição. Não foi o caso de Marcelo Déda. Prefeito de Aracaju, convidou-me a ir à capital dos sergipanos – foi o primeiro entre os prefeitos e governadores a fazê-lo! – para defendermos juntos o Bolsa Família e as ações do Fome Zero. Defendeu, com o vigor e entusiasmo que o caracterizavam, a importância dessas ações e contextualizou com precisão a previsível reação das forças conservadoras no País. Visitamos beneficiários do Bolsa Família. Conversamos com o Ministério Público do Estado sobre ações de parcerias para melhor defesa e fiscalização do Bolsa Família. Começamos ali, em Aracaju, a grande reação que salvou e consolidou o Bolsa Família, as políticas públicas do Fome Zero, a rede nacional de proteção e promoção social.

Em 2011, já afastado do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome e sem ocupar cargo público eletivo ou de confiança, fui a Aracaju receber o título de cidadão honorário de Sergipe. Pude, então, consolidar a minha compreensão da admirável personalidade de Marcelo Déda. Os antigos já ensinavam que a melhor maneira de conhecermos uma pessoa é dando-lhe algum espaço de poder!… Déda no poder jamais perdeu a noção de si mesmo! Tão importante quanto a consciência dos limites do poder, é manter com os amigos, quando estes não estão no poder, a mesma e fraterna relação. O governador Marcelo Déda nos acolheu, a mim e a Vera, com muito carinho e dignidade. Além do almoço que nos ofereceu, esteve, tempo integral, na reunião de entrega do título na Assembléia Legislativa e depois, quando passeava a brisa da noite dos litorais nordestinos, com o entusiasmo de sempre, levou-nos a ver a cidade que tanto amava e conhecia, mostrando-nos lugares históricos, o que fizera e estava fazendo para melhorá-la, especialmente o velho Palácio do Governo, até há pouco abandonado, que ele estava recuperando e que lhe serviu agora de último pouso para a despedida emocionada de seus conterrâneos.

Quando um companheiro da estirpe de Marcelo Déda, aos 53 anos, é arrancado do nosso convívio e das causas que dedicamos nossas vidas, é hora de renovar o nosso juramento, em nome da memória e da presença de Marcelo Déda, com os sonhos e desejos que nos levaram a construir o Partido dos Trabalhadores. Não vamos permitir que eles envelheçam e estiolem. Os tambores, as sanfonas e as violas nos convocam de novo para novas causas e desafios. Em nome de Marcelo Déda, de tantas companheiras e companheiros, vamos responder à convocação da História: estamos presentes! Marcelo Déda está presente!