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Patrus Ananias

A suposta “Escola sem partido” é a escola de um partido único – o Partido da Escola Sem Partido. Certamente um partido de direita, conservador até as mais profundas raízes, sectário, intolerante, que impõe sem discussão suas verdades e seus valores. Um Partido que não precisa tolerar os outros, pois os impede de existir.
O Partido da Escola sem Partido é a realidade oculta desse projeto em discussão, porque não existe ser humano sem sua dimensão política. Se diz Aristóteles q…ue “o homem é um animal político”, é porque existe a política em cada detalhe do cotidiano – na forma que tem sua cidade, na estruturação do bairro onde se mora, no sistema médico que ampara a fragilidade da saúde, na cadeia de produção que leva o alimento até o momento da compra, na escolha que se faz sobre qual alimento comprar, na opção profissional que se faz para a vida.

Olhe a vida ao redor com calma, por alguns minutos, e a dimensão política que se encadeia por trás de cada elemento começa a aparecer claramente.
Somos seres políticos pois a convivência humana é um ato político permanente. É essencial que as pessoas tenham cada vez mais consciência política, porque apenas assim podem ser sujeitos de sua história, de sua vida em comunidade.
A “Escola sem partido” tenta ser o contraponto e a redução da dimensão múltipla do ser humano. É preciso que as pessoas participem mais, não menos. Que a discussão seja aberta, não calada. Que os argumentos estejam nas ruas, nas casas, nas escolas, expostos e abertos à discussão. É preciso que as pessoas compeendam a multiplicidade da vida, dos enfrentamentos, das desigualdades, dos sonhos, dos projetos, dos interesses, das disputas de poder. É preciso que as pessoas compreendam que as disputas de poder são uma realidade diária, a cada momento e a cada decisão.
O Partido da Escola sem Partido é uma visão totalitária de mundo. É a tentativa de represar e nublar a consciência.
O Partido da Escola sem Partido é a quebra da participação popular, é a continuidade da quebra democrática atual – na qual poucos decidem e todos os outros devem ser calados diante da injustiça. Na qual alguns poucos ganham quase tudo, e os outros deve arcar com o peso e o preço dessas escolhas que lhes foram negadas.
Não é coincidência que o Partido da Escola sem Partido queira tomar o poder na educação sem mostrar o que realmente é – um partido único, conservador, que converte narrativas de poder e dominação em “fatos” supostamente absolutos.
Lembrando a conclusão do ótimo texto de Marcelo Rubens Paiva publicado nessa semana sobre o tema, esse é o Partido para manter as coisas como estão – e garantir que nunca sairíamos das cavernas. E, se por acaso saímos, para tentar nos levar de volta para lá.